FavelaDaRocinha.com
Menu
  • Notícias
  • Ações Sociais
  • Colunistas
    • Leoni
    • Luiz Carlos Toledo
    • Tico Santa Cruz
    • Guilherme Campos
    • Marilia Pastuk
    • Marcos Barros
    • Binho Cultura
    • Fabiana Escobar
    • Fernando Ermiro
    • Hosana Pereira
    • Guilherme Rimas
  • Fala Tu
  • EQUIPE
Menu

A valsa que encanta a Rocinha

Posted on 30 de janeiro de 2015 by Flávio Carvalho
Jovens utilizam a dança para espantar os males (FOTO: Flávio Carvalho)
Jovens utilizam a dança para espantar os males (FOTO: Flávio Carvalho)

Tudo foi acontecendo no seu tempo. Quando ele mal esperava, estava cercado por 40 adolescentes dançando e seguindo suas instruções e ainda havia muitos outros querendo aprender com ele. Em frente ao C4 Biblioteca Parque da Rocinha, Alexander Izaias, 35 anos, aguardava o repórter para a entrevista. Alex, como é chamado, é coordenador do grupo Valsa Noite de Encantos. Um homem de estatura baixa, poucos cabelos e muito carisma. O grupo de jovens o acompanhava. Todos uniformizados com a camisa do projeto.

No início da sua jornada na dança, com 14 anos de idade, Alex pretendia apenas formar um grupo para dançar valsa em festas de debutantes. Tudo começou na festa de 15 anos da irmã. Depois disso vieram convites para dançar em outras. Hoje, 20 anos depois, as propostas aumentaram. Alex afirma que o grupo dele é o único da Rocinha que participa de festivais de dança. São 6 anos que o projeto Valsa Noite de Encantos traz para a vida dos adolescentes da Rocinha os ensinamentos de diversas danças de salão, como valsa, bolero e samba de gafieira.

Alex trabalha outros ritmos musicais dentro do projeto Valsa Noite de Encantos. Segundo ele, essa escolha é consequência da diversidade da Rocinha, lugar de onde o grupo é originário e onde fazem muitas apresentações. Ele afirma também que essa opção é decorrente da visão dele em oferecer diferentes conhecimentos aos alunos.

A formação de Alex é em administração de empresas. Ele nunca aprendeu formalmente valsa, mas já participou de um curso intensivo na companhia de Carlinhos de Jesus, dançarino que o inspira e também é padrinho do projeto. Hoje, alguns dos ex-alunos da Valsa Noite de Encantos fazem parte da companhia de dança de Carlinhos. Participar de quadrilhas em Festas Juninas o ajudou na sua formação em dança. Ele ficava atento ao rapaz que fazia as coreografias durante a festa popular. Ele explica que hoje é mais fácil buscar informações para preparar coreografias do que antigamente, embora essa busca fosse mais difícil, os contratantes eram menos exigentes.

– Antigamente você poderia fazer uma coreografia mais simples que o povo adorava, hoje não. Hoje se pedirem para a gente dançar um samba de gafieira, eu tenho que fazer. Às vezes pedem forró ou tango. A gente faz.

O adolescente que entra no projeto não paga nada, mas ele precisa ter responsabilidade para cuidar do material, afirma Alex.

– O que acontece é que muitos têm uma formação familiar não muito boa e acabam encontrando dentro do projeto o que não têm em casa. A ideia não é só pegar um grupo de jovens e colocar para dançar. Ele aprende uma arte, uma cultura, convive com os demais jovens que já estão. O jovem não vem para cá só para dançar valsa, vem para se desenvolver pessoalmente.

A Sala De Corpo do C4 é o espaço utilizado pelo projeto para os ensaios. (FOTO: Flávio Carvalho)
A Sala De Corpo do C4 é o espaço utilizado pelo projeto para os ensaios. (FOTO: Flávio Carvalho)

Para entrar no projeto Alex diz que faz uma entrevista com os meninos. Já as meninas, ele afirma que muitas veem uma apresentação e desejam ser princesa por uma noite. Ele explica que as garotas entram no projeto, aprendem a dançar e permanecem.

– Aqui além de a pessoa aprender a dançar, ela aprende a se comportar, a falar, a ser uma pessoa educada, tratar bem as meninas que participam do projeto. O jovem ao conviver com os demais muda. Identificar essa mudança de comportamento é muito legal.

A faixa etária estipulada para entrar no projeto é entre 14 e 28 anos. Os ensaios acontecem na Sala de Corpo na Biblioteca Parque da Rocinha, às terças e quintas. Luiz Paulo Rodrigues, de 25 anos afirma que começou há 5 anos e meio no projeto, a convite de um amigo.

– Naquela época ensaiávamos dentro de um bar na Rua 4, era pequeno, mas era maneiro. No primeiro dia eu fiquei só observando, então o Alex conversou comigo e comecei a ensaiar. A primeira menina que dançou comigo se chamava Bruna Monassi. Eu era jovem e não trabalhava. Participando do projeto abriram-se algumas portas de emprego para mim. A valsa mudou o meu modo de pensar, abriu a minha mente e pude perceber que há coisas melhores fora da Rocinha.

Alexander Izaias afirma que muitos jovens o procuram para entrar no projeto. Explica que não está mais aceitando inscrições pois o espaço de ensaio é limitado. Alex afirma que está procurando um espaço para ser a sede do projeto, assim ele poderá ampliar a quantidade de alunos.

– O lugar já existe, porém a pessoa não quer vender o espaço, quer alugar. Hoje na Rocinha o locatário não quer vender, só quer alugar, devido à valorização do local. Carlinhos de Jesus quer comprar o lugar e nos ceder como sede, mas o espaço ainda precisa de obras.

Ele explica que Carlinhos de Jesus é seu grande ídolo e também um forte parceiro do projeto. Além de Carlinhos, alguns patrocinadores ajudam o projeto fornecendo as camisas e, quando há apresentações fora da Rocinha, ajudam com os custos de transporte, hospedagem e alimentação. A roupa que os meninos usam durante as apresentações são inspiradas no uniforme da marinha, e as meninas vestem um vestido de debutante. Alex diz que essas roupas são caras e só foi possível comprá-las graças ao prêmio recebido por intermédio de um edital do qual o grupo foi vencedor.

E a arte na Rocinha

De acordo com Davison Coutinho, estudante da PUC-Rio, morador da Rocinha que fez monografia mostrando projetos culturais da Rocinha, a favela é rica e fértil no que se diz respeito à criação cultural, porém, as artes plásticas, música, dança, esporte, teatro, educação, mídias comunitárias, entre outras coisas, muitas vezes, não são reconhecidas e chanceladas.  Alex Izaias acredita que há movimentos culturais muito fortes dentro da favela, porém, não é dada oportunidades a esses produtores culturais.

– O que acontece é que os produtores musicais ficam muito focados em pagode e funk. Essas pessoas precisam ter um olhar para outros movimentos culturais.

Ele acredita que o jovem dentro da Rocinha é doutrinado a gostar de funk e pagode. Ele explica que quando o adolescente entra na Valsa Noite de Encantos percebe a amplitude do universo cultural que está disponível para ele. Ele pondera e afirma que não é contra esses dois estilos musicais, mas complementa que hoje em dia na Rocinha é difícil encontrar movimentação cultural que apresente ritmos musicais diversificados. É mais fácil encontrar esses eventos fora da favela, diz Alex.

Ele vê que há alguns movimentos culturais dentro da Rocinha que estão sendo esquecidos, como as festas juninas.

– Lembro que há 20 anos cada localidade da Rocinha tinha uma festa caipira. Hoje não existe mais e o grupo de valsa é chamado para dançar em festas juninas.

Uma alternativa para mudar esse quadro de estagnação é os artistas se capacitarem, se unirem e se organizarem, explica ele. Não tomando essas atitudes, os artistas perdem tempo, oportunidades e intercâmbio, por exemplo, às vezes o trabalho realizado por um agente cultural pode somar ao trabalho de outro grupo, diz Alex.

– Caso os artistas da Rocinha se unissem, eles teriam mais força. A iniciativa privada teria mais interesse em apoiar os projetos. É muito chato quando um edital é aberto e os agentes culturais querem se inscrever em cima da hora. Somente aí que lembram da união dos artistas.

Flávio Carvalho

Flavio Carvalho é jornalista e fotógrafo popular nascido e criado na Rocinha. Graduou-se em jornalismo pela PUC-Rio, ele integra, desde 2009, a equipe que compõe o site FavelaDaRocinha.com. Atualmente é repórter de campo e fotógrafo da iniciativa global World Mosquito Program, conduzindo no Brasil pela Fiocruz.

3 thoughts on “A valsa que encanta a Rocinha”

  1. Alexander Izaias disse:
    30 de janeiro de 2015 às 13:59

    Quero agradecer em meu nome e de todos do projeto, a toda equipe do site faveladarocinha.com pela linda matéria realizada pelo nosso amigo Flávio Carvalho.
    Isso mostra que a Rocinha tem uma diversidade cultural forte.
    Que valsa muda a vida dos jovens da nossa comunidade e que precisa de mais apoio para poder realizar mais.
    Mais uma vez, o meu muito obrigado.

    Responder
  2. Rosangela disse:
    1 de fevereiro de 2015 às 22:14

    Que maravilha de trabalho. acompanhei um pouco esse trabalho que é feito com esses jovem da Rocinha onde eles aprende o certo e o errado eles encantam muitas festas fazem alegria de muitas familias!!! Que eles possam crescer mais e mais e que possa conquistar seu espaço. Deus de força para esse homem Alexander izaias continuar com o projeto valsa noite de encantos.meus parabéns.

    Responder
  3. thais magalhaes disse:
    9 de fevereiro de 2015 às 01:01

    Daqui a uns dias faço 4 anos que participo desse grupo , onde eu conheci pessoas novas , onde posso estravazar meus sentimento (humor) “do dia” através da dança corporal .. foi a 4anos atrás que me acolheram, ajudaram e ensinaram oque eu precisava ..

    Esse é um dos grupos da comunidade que muitos jovens queria ter a oportunidade de participar , pois em uma comunidade onde a violência diariamente , não tem coisa melhor doque ter a mente ocupada por uma ação saudável a vida e a saúde ..
    Gosto de dançar , e agradeço por a oportunidade que Alexander deu e da a muitos jovens ..

    Responder

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você sabia?

Em 20 de Setembro de 2012 a Rocinha passou a ser atendida pela 28° UPP com o efetivo de 700 policiais.

Procurar no site

Comentários dos leitores

  • Naluh Maués em Meu pequeno grande milagre
  • Cely em Meu pequeno grande milagre
  • Joelma em Meu pequeno grande milagre
  • taillon em Beco nosso de cada dia
  • Maria Ines em Oficinas do Sesc/Senac na Rocinha! Inscrições Gratuitas!

Tags

ajuda arte Biblioteca Borboleta C4 carnaval Cinema comunidade crianças Cultura dinheiro economia educação esporte favela fotografia funk Governo jovens leitura literatura morador moradores morro morte Música oportunidade Parque PM polícia política projeto Rio de Janeiro rocinha saneamento saúde segurança social São Conrado teatro turismo upp vestibular Vidigal violência

Instagram

Follow @@faveladarocinha
Followers: 13347
faveladarocinha.com faveladarocinha.com ·
@FavelaDaRocinha
Nau Rocinha retoma atividades com as primeiras turmas de 2023.
https://t.co/2XFLazxAO5
View on Twitter
0
0
faveladarocinha.com faveladarocinha.com ·
@FavelaDaRocinha
O projeto TMJ Rocinha + Sustentável foi apresentado hoje no Complexo Esportivo da Rocinha mostrando a importância da intervenção e o impacto social e sustentável que a Rocinha receberá com diversas ações. Confira em nosso site: https://t.co/JMK9WJGfdc
View on Twitter
0
1
faveladarocinha.com faveladarocinha.com ·
@FavelaDaRocinha
No início da manhã desta terça-feira (22), sete sirenes de emergência foram acionadas na Rocinha devido à forte chuva. Há relatos de diversos pontos de alagamento na favela.
Em caso de emergência, ligue 199 (Defesa Civil). https://t.co/AbYKz79ctH
View on Twitter
FavelaDaRocinha photo
4
19

  • Facebook
  • Instagram
  • Twitter
  • YouTube
© 2023 FavelaDaRocinha.com | Powered by Minimalist Blog WordPress Theme