Os holofotes apontavam para a Rocinha, prisões sendo realizadas, a favela cercada e os moradores acuados mas esperançosos pelo que iria vir. Amanhecemos naquele domingo com papeis jogados pelos helicópteros informando que “…esta favela está sendo pacificada” e mais tarde, ainda no mesmo dia, bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro foram hasteadas na Curva do S ao som de aplausos e gritos por “Rocinha! Rocinha!” e assim celebrávamos a espera por dias melhores. Há 3 anos, a Rocinha foi “pacificada com sucesso” segundo as autoridades.
O que de fato aconteceu em 3 anos? Aguardamos as melhorias pacientemente e aos poucos vimos a favela sendo transformada em etapas: primeiro a gentrificação comercial. A Via Ápia tornou-se a mina de ouro dos grandes empreendedores e muitas marcas que antes víamos no asfalto, agora disponível na rua mais movimentada da Rocinha. Em seguida, os custos dos imóveis que subiram tanto obrigando moradores a procurarem novos vizinhos. E por fim, a falsa impressão de que tudo caminhava no sentido de uma prosperidade instantânea.
E a segurança? Comércios e casas invadidas e furtadas, mortes de crianças e moradores que de alguma forma, eram vítimas daquela velha nova política instalada na favela. As outras mortes, que aconteciam antes da UPP, não tínhamos a quem recorrer e cobrar providências. Hoje com a base instalada no ponto mais distante dos moradores, só recebemos informações para irem lá apenas os mototaxistas realizarem seus cadastros… É uma ação necessária, mas e a pacificação?
Fomos as ruas. Gritamos por dias melhores e nos juntamos com os vizinhos para ir cobrar explicações aos responsáveis. Na porta deles. O governador pediu para que não fizéssemos isso pois ele tinha família. Parecia mesmo uma briga de família, eram centenas percorrendo toda a Av. Niemeyer exigindo que parassem com a destruição de familias na Rocinha.
Hoje, 3 anos depois, temos muito orgulho de viver nesta favela. Aquela que como um filho criado sem pai, foi incumbida a se comportar como se tivesse família e adaptar as regras da sociedade. Somos um bairro. Assim como Leblon, Copacabana, agora temos a polícia frágil, temos os assaltos e o medo de andar a noite. A Rocinha deixando de ser uma roça pequena e avançando para a ordem e o progresso, estampada em nossa bandeira, que aliás, não durou nem um ano hasteada na Curva do S.
“Dias melhores
Dias de paz
Dias a mais
Dias que não deixaremos para trás”