Na Rocinha fim de ano é assim: ruas e becos são tomados por enfeites natalinos, o comércio, que já não fica parado durante o ano, vê suas vendas duplicarem e o corre-corre das motos se intensifica do pé da favela até às últimas casas do 199. Mas nesse ano nem todas as tradições estarão presentes. O presépio da região do Sete, que é montado anualmente por moradores, não pode ser organizado esse ano devido a complicações financeiras.
Ivan Marques, morador de 67 anos e responsável pelo projeto, nos contou que a impossibilidade foi primária: faltou dinheiro.
“O presépio usa em média 30 lâmpadas, 150 reais cada uma, ficou caro esse ano. É só eu e um amigo meu, o CIC, ano passado gastamos 6 mil reais, 3 mil dele, 3 mil meu. A gente não tem ajuda do comércio de ninguém. Esse ano ficou muito difícil mesmo, financeiramente ficou muito difícil.”
Ivan não ganha nenhum retorno financeiro por montar o presépio, não faz com esse intuito. Começou com uma árvore e enfeites de natal, que já chegou a ter 8 metros em certa edição, e depois a versão do nascimento de cristo. A única ajuda financeira que tem é por meio de um cesto que recolhe latas e panelas velhas descartadas por outros moradores e que podem gerar cerca de 600 ou 700 reais, uma pequena parcela do valor total.
“Há 8 anos (que o presépio vem sendo montado). Esse é o primeiro ano que não vai ter o presépio nem a árvore de natal. A gente começou com árvore de natal de garrafa PET. Botamos o cesto alí do lado para as pessoas botarem latinhas ou panelas de alumínio e aí fomos aumentando. Depois pensamos ‘temos que montar um presépio’. Fomos num lugar que se faziam os personagens e compramos.””
Para manter a ação no local do presépio, Ivan preencheu o lugar com pés de frutas, denominado por ele como “Projeto Frutífero”, onde moradores plantam e colhem as frutas enquanto não tem o presépio. Nada mais sugestivo, já que o local recebe o símbolo do maior nascimento de Cristo.
” Já temos pé de caju, pé de jabuticaba, pé de manga, pé de goiaba. Estamos fazendo isso para as pessoas irem pegando fruta quando derem. Se o presépio tivesse aí hoje seria algo muito importante.”
Apesar de não ter sido possível montar esse ano, o presépio é um pedido certo para o bom velhinho em 2019.
“Com o dinheiro que angariamos com a venda das latinhas, vamos preparar com certeza o do ano que vem”, complementando ainda com um antigo sonho – “nossa intenção é botar roupas em todos os personagens”.
Com essa determinação e força, é impossível que o menino Jesus deixe de nascer onde hoje floresce o amanhã.