Tenho falado da fraqueza da palavra portuguesa. De como suas palavras perderam, ou deixaram de ter significado ou significância. Vamos analisar a palavra absurdo: aquilo que deveria ser raro, não frequente. Se algo é absurdo e acontece de forma recorrente não pode ser absurdo, então a palavra perde a força e o significado. Um exemplo para ilustrar: um menino de 13 anos que é abordado por um policial e este exige que o menino diga onde estão os traficantes, é um absurdo. Mas, se esse menino repetidamente passa por isso já não é absurdo e se ele ao caminhar faz um barulho que assusta o policial à espreita e com isso denuncia o despreparo da força que deveria trazer segurança que pergunta novamente: – onde estão os traficantes? E da próxima vez atiro no seu peito. Isso não pode ser absurdo.
Os acadêmicos vão gritar, mas é como a palavra “justiça” que sua definição não pode ser encontrada ou vista por ninguém nas ruas. A língua portuguesa é fraca, e desde 1500 tem dificuldade de afirmar se não adjetivada, veja nosso português do Windows, é brasileiro.
Há pouco mais de 200 anos não se falava português nas ruas, somente por força do estado nas repartições públicas e nas incipientes Escolas? Toda população e todo negócio era feito e se falava na língua geral, o nheengatu, e depois acompanhada e tomada na base pela força da língua bantu e sua dupla negativa. “Não falamos português nas ruas, não”.
Hediondo, corrupção, ética, decoro (sua falta), segurança pública, igualdade, direitos, transparência, dinheiro público, lei… Palavras sem o menor sentido. O que querem dizer?
Nesta grande confusão entre o real e o imaginário (ou ao contrário), me vejo como um estrangeiro tentando entender essa ordem de coisas aparentemente sem sentido. Fechando à lá Engenheiros do Hawaii: “eu me sinto um estrangeiro passageiro de algum trem… que não passa por aqui… que não passa de ilusão” ou como nas conversas com Eleonora, italiana, que se esforça para entender porque as coisas não funcionam no Rio de Janeiro, dos serviços de internet à coisa pública na ausência da prefeitura, e que respondo repetidamente que este país não existe, e que está por inventar.
Gostaria muito de ouvir a versão dos Tupy e seus 10 mil anos de história, pois esses últimos 500 anos não estão fazendo sentido. Decifremos ou seremos todos devorados.