FavelaDaRocinha.com
Menu
  • Notícias
  • Ações Sociais
  • Colunistas
    • Leoni
    • Luiz Carlos Toledo
    • Tico Santa Cruz
    • Guilherme Campos
    • Marilia Pastuk
    • Marcos Barros
    • Binho Cultura
    • Fabiana Escobar
    • Fernando Ermiro
    • Hosana Pereira
    • Guilherme Rimas
  • Fala Tu
  • EQUIPE
Menu

Musicalidade na Infância

Posted on 9 de janeiro de 2019 by Hosana Pereira
Este texto é um relato nostálgico e “romantizado” sobre a minha infância vivida nos anos 80 na Rocinha.

Foto: Leandro Lima

As histórias contadas por quem as vive nas favelas carregam riquezas de detalhes se comparado com àquelas contadas de forma seca nos livros. Quero dizer com isto, que estes relatos narrados pelos favelados vêm carregados de nostalgia e uma enorme carga afetiva, fato este que muitas vezes guardamos no íntimo de nossas lembranças, por achar que não interessaria a ninguém por fazer parte da vida pessoal e afetiva.

Algo que me recordo da infância aqui na Rocinha são os diversos sons os quais preferi me referi-los como musicalidade porque é assim que soa para mim hoje e que na época eu vivia, sentia e não a percebia como hoje. Dessa forma, faço uma volta ao passado e analiso o meu presente. Percebi que a minha infância não foi marcada somente e intensamente por sons de tiros, como tem vivido hoje o meu filho e as demais crianças das favelas. Hoje, recordando vejo que foi prazeroso passar a infância aqui, apesar das dificuldades do dia a dia.

Retornando a musicalidade, eu queria compartilhar, ou até mesmo fazer alguém voltar ao passado e perceber os sons que marcaram a sua infância. Os sons das brincadeiras e das atividades do cotidiano me soam como música. Percebo que tem grupo de música que usam o artifício de “barulho” da algazarra das crianças para incrementar a música e nos remeter ao lado bom da vida.

Então, vou relatar a minha musicalidade que estava presente: nos gritos quando faltava ou chegava a luz; nas provocações no tempo de pipa que era um tal de gritarem “foi ehhh!”, “bota outra”, “cortei” e isto ecoava entre a Pedra da Gávea e Pedrabonita, marcado pelas risadas dos amigos de quem foi cortado e perdeu a pipa, a correria para pegar a pipa avoada e alguém dizendo “é minha, é minha”; o som da bola de gude batendo uma nas outras, seguido dos gritos de “marralho”, “papa”, “ganzo”, “búlica” expressões do mundo do gude; o som da moeda batendo no prego na brincadeira de futebol de pregos; a músicas cantadas nas brincadeiras de elástico, pula corda e nas brincadeiras de roda e bater as mãos; o som da lata chutada no pique lata; a música cantada na brincadeira em que fazíamos uma trouxa com jornal e ateávamos fogo para que ela subisse ao som da gritaria “sobe maria preta, sobe maria preta” e repetíamos isto até ela subir, queimar e evaporar tudo isto com muita algazarra, muitos gritos.

Hoje, na minha memória também era um “barulhinho bom” os galos cantando, os grilos na mata, o som das roupas sendo batida nas pedras pelas pessoas que lavavam roupa na “caixinha” e no “Durão”, os gritos das crianças na mata junto com o som dos pássaros, do vento nas folhas, da água seguindo o seu curso e de pessoas cantarolando qualquer música.

Tudo isto relatado fez parte do meu universo particular enquanto criança.

Escrevi este texto e depois cheguei a triste conclusão de que tivemos violência, mas tivemos uma infância com espaço e brincadeiras. Hoje, os becos se estreitaram, os moradores se sufocaram, as brincadeiras acabaram e as armas imperaram.

Hosana Pereira

Hosana Pereira tem 42 anos é leonina, mãe do Bernardo e cria da Rocinha. Cientista Social/Linha de pesquisa: favela. Pesquisadora de campo: Kantar IBOPE, Data folha, IBGE. É amante da música, culinária, natureza e escritora amadora. "Os becos da favela são como as artérias do coração que nos irrigam de vivência, por vezes de resistência e por outras de resiliê/ncia num processo contínuo de renovação e reconstrução."

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você sabia?

Em 20 de Setembro de 2012 a Rocinha passou a ser atendida pela 28° UPP com o efetivo de 700 policiais.

Procurar no site

Comentários dos leitores

  • Naluh Maués em Meu pequeno grande milagre
  • Cely em Meu pequeno grande milagre
  • Joelma em Meu pequeno grande milagre
  • taillon em Beco nosso de cada dia
  • Maria Ines em Oficinas do Sesc/Senac na Rocinha! Inscrições Gratuitas!

Tags

ajuda arte Biblioteca Borboleta C4 carnaval Cinema comunidade crianças Cultura dinheiro economia educação esporte favela fotografia funk jovens leitura literatura maré morador moradores morro morte Música oportunidade Parque PM polícia política projeto Rio de Janeiro rocinha saneamento saúde segurança social São Conrado teatro turismo upp vestibular Vidigal violência

Instagram

[instagram-feed]
bpr_1475537716
logotipo_PVCR_400x400
WhatsApp Image 2018-07-31 at 13.22.12
SSS
Screenshot_20190325-145855
Screenshot_20190325-144243
Screenshot_20190325-144113
PEQUENO EMPREENDEDOR
capacitare
© 2022 FavelaDaRocinha.com | Powered by Minimalist Blog WordPress Theme