Nas últimas décadas, o tema mudança climática despertou relevante atenção política desde a constatação de que as alterações ambientais estão aceleradas pelo mal uso dos recursos naturais. Curiosamente, os tratados e acordos internacionais são pautados pelos países mais poluentes que, em parte, transferem a sua responsabilidade e parcela de culpa para os países menos desenvolvidos.
E é justamente por meio da disparidade econômica que os impactos da mudança climática afetam diretamente os mais vulneráveis socialmente, principalmente, com enchentes e deslizamentos de terras que arrasam bairros periféricos. Por isso, é de suma importância que moradores de comunidades tenham acesso ao tema para discutir essa questão a partir da sua própria realidade.
Para aproximar essa reflexão das periferias, a organização Comunidades Catalisadoras (ComCat) – através da Rede Favela Sustentável – articulou o circuito de encontro Memória Climática, que será realizado em sete museus comunitários de memória do Rio de Janeiro. O primeiro encontro aconteceu no Museu da Maré, no dia 28 do mês anterior.
Nesse final de semana, foi a vez do Museu Sankofa: Memória e História da Rocinha intermediar o evento em seu território. O encontro na Rocinha aconteceu no sábado, dia 04, no Ciep Ayrton Senna da Silva – das 9 às 17 horas.
O debate envolvendo representantes de diversos coletivos da redondeza foi dinamizado por rodas de conversas que, facilitadas por perguntas temáticas, direcionaram para uma reflexão aprofundada sobre os impactos da mudança climática a partir dos seguintes recortes: memória climática, ocupação, direito à cidade e o saber popular como resposta aos desafios impostos pelo clima/natureza.
Cofundador do Museu Sankofa, Antonio Firmino ponderou que é preciso ter cuidado para não achar que essa iniciativa é um acontecimento totalmente inédito, mas que “há muitos anos os moradores trabalham essa memória climática com ações através de diversos movimentos”. Para ele, a importância do encontro está em resgatar o que os moradores sempre fizeram diante dos acontecimentos catastróficos presentes na história da Rocinha.
Ainda segundo Firmino, o Museu Sankofa tem a responsabilidade de trazer essa memória de lutas dos moradores, passando pela questão do direito à moradia, do direito à urbanização e pelo processo do saneamento básico. “São questões que estão interligadas: como fazer moradias seguras e saudáveis” – finalizou Firmino.
O encerramento do circuito de encontro com museus, que teve início em janeiro, está previsto para o mês de maio, quando será realizado um evento de exposição e debates na perspectiva de apresentar as propostas refletidas às autoridades políticas e à sociedade carioca.
Memória de Mudança Climática acontece em parceria com:
Museu da Maré;
Museu Sankofa Memória e História da Rocinha;
Museu do Horto;
Museu de Favela;
Núcleo de Memórias do Vidigal;
Museu das Remoções;
NOPH – Antares;
Raízes em Movimento – Cpx Alemão.
Matéria publicada em parceria com o Favela IN.