Dois dias após as terríveis chuvas na Rocinha, nessa sexta-feira feira 8 de fevereiro de 2019, ainda era possível ver os estragos deixados pela água. Muitos iam se recuperando com a força da fraternidade, juntavam os vizinhos para limpar o lamaçal. Além dos vários pontos que estão recebendo doações para moradores mais prejudicados. Os que não tinham tanto, ajudando quem, agora, não tem mais nada. A Rocinha novamente mostrou sua força na união.
Um grande exemplo dessa força que presenciamos foi a troca de motos por pás e enxadas. O pessoal que sobe e desce o morro várias vezes ao dia, cuidando do transporte dos moradores, dessa vez cuidou da limpeza das ruas em que costumam trafegar. Um grupo de mototaxistas (sem hífen), que também mora na Rocinha, botou a mão na massa na tentativa de agilizar a limpeza da região, já que o órgão da prefeitura responsável por isso apresenta dificuldades para atuar no momento. Dentre os mototaxista no local, destaca-se Carol, única mulher dentre os profissionais que faziam a limpeza, e que tratava a situação com garra: “Estou fazendo o que muitos deveriam fazer”

Acompanhamos de perto uma das regiões mais devastadas pelo temporal, a Rua Dionéia. A ladeira que nos leva de um dos pontos centrais da favela, a Estrada da Gávea, até a região da mata, possui inúmeros pontos que expressam bem o que foi essa chuva. Um muro foi atropelado pela lama que descia encosta a baixo. Abaixo do muro, algumas casas não escaparam dos estragos. As imagens chocam. Subindo mais vemos motos destruídas, eletrodomésticos empilhados, tudo estragado. Ao final da caminhada chegamos na região rodeada de verde. Poderia ser facilmente um passeio revigorante, com belas paisagens, se não fosse logo após uma tragédia. Incontável o número de árvores caídas, algumas delas em cima de residências. Um pequeno morador, de cerca de 12 anos, apontava a parte da casa destruída, e dizia que com um machado seu pai cortou a madeira para desobstruir a região.

Depois de descer toda a ladeira, reflito e processo tudo o que vimos, aos poucos. A comoção é grande, triste por tudo o que presenciamos. Mas seria um pecado se saíssemos sem esperança nessa gente. Quando o habitante de favela mais necessita, e o estado reforça sua ausência, o povo se une e prova que é capaz de se reerguer. Apesar de toda dificuldade, não vemos uma pessoa sequer trabalhando sozinha, sempre com a ajuda de duas ou mais pessoas. A favela tem como sua maior riqueza, o morador.