
Um telão enorme dentro da comunidade para exibir os 10 filmes ganhadores do 1º Cine Favela Festival. O evento aconteceu na tarde de sábado, no C4 Biblioteca Parque da Rocinha e foi um gostinho do festival que aconteceu durante o mês de
junho realizado pela TV Tagarela, esta que exibe e produz filmes nas ruas da Rocinha há 17 anos de forma independente.
Alguns dos diretores compareceram ao que foi chamado de “Sessão de Repescagem do festival”, como Ludmila Curi que dirigiu Doutor Magarinos, advogado do morro, ganhador como melhor Curta Documentário (Favela Ontem); e Luciano Vidigal, diretor de Cidade de Deus – 10 anos depois, escolhido como Melhor Média/Longa Documentário, alguns personagens dos filmes também marcaram presença.
Depois das exibições houve uma mesa de debate que contou com Guilherme Rimas, artista da Rocinha que recebeu prêmio como Melhor Video Clipe, com O céu é o limite; Flávia Melo, que já coordenou a Escola de Música da Rocinha; Luciano Vidigal e Ludmila Curi, ambos realizadores de filmes ganhadores do festival. A principal discussão foi sobre o cinema de favela e a favela como está sendo representada midiaticamente.
Ao ser questionada sobre como a favela tem sido mostrada na mídia, Ludmila disse que acredita que atualmente o modelo de pacificação trouxe para as comunidades uma centralidade que antes não tinha; e também devido às políticas sociais de distribuição de renda, os moradores desses locais se tornaram consumidores em potencial, com isso as empresas passaram a olhar diferente para essa parcela da população.
“Quando eu trabalhava no Jornal O Globo se eu sugerisse uma pauta, era muito comum ser recusada. O meu editor dizia: “quem quer saber o que está acontecendo numa favela”. Hoje as coisas são diferentes, afirmou Ludmila.
Luciano Vidigal aponta que é importante que quem é de fora da favela represente a comunidade, mas ressalta que a melhor forma disso acontecer é em parceria. “Quando eu estava fazendo Cidade dos Homens os produtores e diretores vinham até mim e perguntavam se o texto estava ok, e eu tinha total autonomia para mudá-lo, caso fosse necessário. E isso era com todos os atores do elenco em quem participava da produção da série”, disse Luciano.

O primeiro festival sobre favela do Rio de Janeiro O 1º Cine Favela Festival teve a duração de 10 dias e apresentou mais de 50 filmes para quem passava pela Praça da Roupa Suja à noite. A mostra cinematográfica apresentou diferentes filmes de diversas periferias do Brasil que falavam sobre favela ou foram produzidos em favela ou que foram realizados por favelado e também por não favelados.
Fabiana Melo, que fez parte da curadoria dos vídeos e integra a TV Tagarela, afirmou que a intenção era fazer uma aproximação dessas obras com os moradores e mostrar o que a comunidade vive e pensa. “Esses filmes são importantes porque eles trazem um panorama do que é a favela hoje para o Brasil e o que ela representa para a cidade. Para a gente, é muito importante ter um festival gratuito, que aconteça na favela e que, sobretudo, as pessoas se sintam representadas na tela”, contou Fabiana.
Ela afirma também que embora exista uma gama enorme de produções desse gênero, esses filmes não chegam ao conhecimento do favelado. Ela cita o exemplo do longa A Batalha do Passinho, que foi premiado pelo júri popular no Cine Favela Festival e que ao mesmo tempo ficou pouquíssimo tempo em cartaz. A obra ficou apenas uma semana em uma sala no Rio de Janeiro.
“O mercado não permite que esses filmes entrem no gosto do público e empurra para a plateia uma falta de diversidade de linguagem. Então se você vai no cinema aqui ao lado, nos shoppings, todos estão exibindo quase a mesma coisa”, lamentou Fabiana.
Robson Melo, também integrante da TV Tagarela e que atuou na produção do evento, comenta quais foram as principais dificuldades para fazer o festival acontecer em junho. “As autorizações junto aos órgãos públicos foi o que eu achei a parte mais difícil na minha alçada, pois é uma corrida contra o tempo. Por exemplo, você só pode pegar a autorização com o bombeiro, depois de passar pela UPP. E nem sempre você encontra a pessoa responsável por autorizar o evento no momento que precisa. Isso acaba influenciando e atingindo a agenda de produção de forma inteira”, explicou Robson.