Meu nome é Fabiana Maria Leonel da Silva, tenho 37 anos sou do Rio Grande do Norte da Cidade de Mossoró. Cheguei ao Rio de Janeiro em 1997 onde morei em Botafogo por quatro anos e logo conheci a Rocinha, onde fui muito bem recebida.
Em 2013 comecei a passar mal, sentia muitas dores na barriga, fui ao médico, passei pelas mãos de vários profissionais da rede pública onde fiquei internada. Uns diziam que era fígado, outros rins, até infecção foi cogitada. Procurei um médico particular que me examinou e disse que meu caso era grave, me encaminhou para o Hospital Miguel Couto, mas no dia não havia vaga e retornei para minha casa. Chegando em casa orei a Deus e pedi para que fosse descoberto o que eu tinha para agilizar ou não o tratamento, não aguentava tomar mais tantos remédios.
Estava deitada com febre e muitas dores falando com Deus, de repente sinto algo estranho mexendo na minha barriga rápido e queimando, logo levantei e gritei pela minha mãe dizendo que tinha um bicho andando na minha barriga, minha irmã falou que eu estava grávida e que era um menino e não bicho, todos começaram a rir…
Minha irmã mandou comprar o teste de gravidez para confirmar, fui correndo, mas sem acreditar, ao chegar em casa fiz o teste, para minha surpresa deu positivo, foi um misto de confusão e alegria, por um lado não estava doente como fui diagnosticada, por outro não me sentia preparada para ser mãe.
Não tinha sonho de ser mãe, mas sempre cuidei de meus irmãos, sobrinhos e por fazer parte do Projeto Acorda Capoeira cuido de muitas crianças, indo mais além Deus me capacitou para receber como filho meu sobrinho Pablo Vinícius após o assassinato de minha irmã, com 5 anos de idade. Acho que já tinha experiência, só não me dava conta da tarefa, hoje Pablo tem 16 anos.
Descoberta a gravidez fui a UPA e relatei os últimos acontecimentos a uma enfermeira maravilhosa que conversou comigo, logo cancelou todos os remédios que estava tomando, depois da acolhida fiquei mais tranquila e logo foi marcado para iniciar o pré-natal. Na a primeira ultrassonografia a médica afirmou que era uma menina, fiquei feliz demais, mas a felicidade durou pouco, pois a segunda ultrassonografia afirmou que eram dois meninos o que me deixou preocupada, pois eram dois diagnósticos extremos, a terceira me deu mais confiança confirmaram que era um menino, os erros foram atribuídos a quantidade de líquido na barriga. Voltei na UPA para conversar com a enfermeira que me tranquilizou, mas não a encontrei, pois estava de licença. Conversei com o médico de plantão e relatei toda a história, ele dizia que minha barriga era muito grande e não se sentia confortável em acompanhar minha gravidez ali, por não ter equipamentos adequados, logo me encaminhou para o Hospital Maria Amélia, lá foi descoberto que tinha pressão alta e diabete gestacional.
Aos cinco meses Felipe Emanuel queria vir ao mundo e me deram medicamentos para segurá-lo. Como o coração de Felipe estava com batimentos lentos, marcaram outra consulta não muito distante para acompanhar o quadro, mas no mesmo dia permaneci no hospital, pois não conseguiam ouvir o coração, tiveram que induzir o parto. Felipe nasceu em um piscar de olhos, notei que meu filho tinha a língua pendurada e perguntei se era normal, no momento disseram que sim. Levaram-me para uma sala, onde notei que todos os bebês mamavam, menos Felipe, pois com a língua pendurada não conseguia fazer a sucção do leite, daí tirei a roupinha dele e comecei a observa-lo, assim notei que tinha os dedinhos dos pés tortos, a orelhinha, enfim, chamei a pediatra e em seguida o levaram para uma sala especial onde constataram que Felipe era especial, tinha a Síndrome de Noonan, que afeta cabeça, órgãos genitais, coluna e coração. A médica disse para eu ser forte, pois meu filho não duraria uma semana, entrei em desespero, fiquei sem chão com a notícia que Felipe morreria em uma semana. Nesse momento começai a questionar Deus e assim o fiz… Porque eu? Eu não queria ser mãe? Porque me dar para tirar? Deus respondeu aos meus questionamentos e disse que eu era especial, e que meu filho era mais especial ainda, a partir desse momento parei de brigar com Deus, aceitei e coloquei em suas mãos.
Aí começou a luta, no segundo dia a médica chamou Manoel (pai) e eu e relatou que era para irmos para casa, encomendar o caixãozinho do Felipe, por que ele não ia sobreviver e se isso acontecesse ele não iria andar, falar ou ouvir, Manoel entrou em desespero pensando em desistir, dessa vez foi minha vez de falar para ele acreditar… Como eu já havia entregue nas mãos de Deus tudo que aquela profissional dizia não era tão doloroso, ao contrário eu tinha mais forças.
Pensei, não sairei do lado do meu filho, mas eis que mais uma surpresa no meu caminho, não tinha lugar para acompanhar qualquer criança, foi aí que comprei uma briga e disse que só sairia dali com meu filho. Chamei os responsáveis e disse que se não ficasse, ficaria nua em frente ao hospital como forma de protesto, não sei se foi o motivo, mas consegui o que solicitei. Colocaram uma cadeira e assim permaneci vigiando-o dia e noite. Pude constatar vários descasos de alguns profissionais que tratavam as crianças que ali estavam, acredito por serem especiais, como ratos, sim, era essa a nomenclatura que utilizavam quando começavam a chorar, nesse momento me enchi de forças, chamei a direção do hospital e disse que cada ser humano que ali estava merecia muito respeito, muito mais do que imaginavam, pois lutavam pela vida.
Felipe se alimentava por sonda, tinha apneia, muitas vezes desmaiava, conversava com ele o tempo todo, como amava e o mais incrível é que ele ouvia. O hino que não me cansava e não me canso de cantar para ele é a canção “Campeão Vencedor”, pedindo a Deus sempre para que ele pudesse sair dali e todo dia era uma vitória, um dedo que ele mexia, um olho que abria, quando conseguia digerir o alimento, já que muitas vezes ele vomitava e ficava mais fraco ainda.
Com a progressão Felipe foi para uma sala onde tem um projeto chamado “Canguru”, ali a mãe podia permanecer o tempo todo com o filho. Mesmo ali Felipe teve recaídas, duas hérnias, infecções, mas sempre com recuperações milagrosas. Chegava fim de ano e pedi aos médicos para passar o natal em casa com meu filho e mais uma vez os médicos disseram ser impossível, mas insistia que para Deus nada era impossível. Em dois dias Felipe teve uma recuperação incrível e fomos passar o natal em casa.
Ao chegar em casa ele ficou bem, mas com dois dias ele desmaiou e tivemos que sair correndo, por 30 minutos ele não respondia a estímulo algum, isso aconteceu mais duas vezes e o tempo todo eu conversava com ele dizendo o quanto ele era amado por todos e assim ele voltava para nós.
Com o progresso de Felipe os médicos descobriram que a doença afetou o coração, ele tem uma cardiopatia e a qualquer momento pode nos deixar, mas ele é um guerreiro desde cedo provando que ele ouve muito bem, anda, corre, enxerga e fala esse é meu pequeno grande milagre…
Nesse dia das crianças gostaria de falar para todas as mães que criança precisa de amor, sobretudo e em especial as mães de crianças especiais, que filhos são um presente especial em nossas vidas, afinal aprendemos mais com eles que o contrário. Quando chamarem sua criança de deficiente, mostre a ele(a) que se retirar a letra “D” sua criança se torna eficiente.
Felipe me emociona e me surpreende o tempo todo com sua eficiência, certa ocasião fizemos uma festa de natal no fim do ano passado e recebemos doações de vários brinquedos, Felipe não desgrudou de uma boneca e eu queria tirar a boneca dele, afinal era brincadeira de menina. Como ele não soltava a boneca deixei ele com ela até ver o que faria com a boneca depois que ele finalmente esquecesse o brinquedo. Do modo dele ele falou que a boneca era para amiga do hospital que sempre encontra nas sessões de fisioterapia, a Camila que foi abandonada pelo pai pela ignorância de não aceitar que nasceu cega. Mais uma vez aprendi com Felipe a importância de lembrar que apesar da situação, existe o outro, na ocasião ele a abraçou e disse: Ama, ama. Tão pequeno, mas com um grande coração.
Todos os profissionais que acompanham Felipe não entendem o seu progresso, atribuem isso a um milagre, e ressalto sempre para Deus nada é impossível, sorrimos, nos despedimos e a vida segue. Felipe está as vésperas de completar 2 aninhos, a capoeira também tem grande parte nessa vitória, pois Felipe adora cantar e lutar, ele luta na atividade e pela vida, cada dia é uma vitória para o meu pequeno grande milagre.
A ignorância
Precisamos substituir a palavra preconceito pela ignorância, talvez dessa forma vamos procurar nos informar e assim compreender do que se trata esse ou aquele assunto. A ignorância das pessoas é a venda nos olhos que quando tirada é como o cego que volta a enxergar. Poderia enumerar os vários episódios ignorantes e egoístas nesses quase dois anos com Felipe, mas prefiro acreditar que as pessoas se informem e mais se coloquem no lugar do outro e tenha o mesmo cuidado que quisesse se fosse com você, dessa forma formaremos cidadãos melhores no futuro.
Mãe de Felipe….PARA DEUS NADA É IMPOSSÍVEL…..a Senhora é um grande exemplo de mãe .
Fabiana, que incrível e esse garoto, que força que vocês tem, me emocionei muito lendo a historia de vocês, meu filho também teve uns probleminhas quando nasceu eu fiquei louca com medo de perder ele, mais ai vem Deus parece que ele coloca a mão que acalma nosso coração, sábado meu bebe vai completar dois anos, e vai passar uma cirurgia, mas estou confiante em Deus que tudo dará certo.. Querida que Deus abençoe grandemente sua família, e o Felipe ele e um príncipe e grande exemplo pra muita gente..
Fabiana vc é muito especial tanto qto o Felipe!!!linda sua história amei assim como amo ele 😙parabéns pela forca
Que exemplo! Fantástica! Só o amor constrói!
Amores meus… te admiro muito, Fabiana. A você e ao Manoel. Ah, esse “nosso” Filipe!!!
Beijos da tia Naiú! 😉