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Êxodo da Rocinha: violência leva muitos moradores a se mudar

Posted on 7 de novembro de 20176 de novembro de 2017 by FavelaDaRocinha
Funcionário de transportadora desembarca mercadorias nas imediações da Autoestrada Lagoa-Barra: por causa dos confrontos quase diários, empresas deixaram de entregar produtos dentro da favela (foto: Gabriel de Paiva)

“A vida é: dura, rápida e incerta”. A frase está escrita à mão no verso da propaganda de uma loja na Rocinha, exatamente em frente ao local onde, na última segunda-feira, parou o carro com a turista espanhola María Esperanza Jiménez Ruiz, àquela altura baleada no pescoço, quase morta. Sintetiza a rotina de uma comunidade que, há 43 dias, não sabe mais o que é ter paz. Na favela que é um mundo, apesar dos tiroteios, continua o vaivém de pessoas que cumprem suas obrigações cotidianas. Mas o medo as acompanha, muda hábitos e já leva muita gente embora. O êxodo se evidencia em imóveis vazios e na proliferação de anúncios de casas à venda ou para alugar. Quem fica evita circular, o que esvazia o comércio e faz serviços fecharem mais cedo. E se as disputas de bandos rivais do tráfico seguem sem fim, os relatos de abusos dos policiais — que agora estão aos montes por todo canto — também impõem perplexidade. Sentimento que, de alguma forma, atravessa a todos que andam acuados no meio dessa guerra.

— Moro na Rocinha há 23 anos. Nunca tinha pensado em sair, mesmo em outros tempos de violência. Mas, desta vez, está instável demais. Não dá para viver assim. Segunda-feira (30/10) deixo a comunidade. Vou me mudar para Jacarepaguá — afirma um comerciante da parte baixa da favela, um dos que veem seu faturamento minguar. — Os moradores compram só o básico, o necessário. Nem pesquisam preço. E vão para casa, porque temem que a qualquer hora estoure uma troca de tiros.

Desde o início dos confrontos, raro é achar quem não tenha visto um ou vários vizinhos de partida. Áreas que se tornaram “Faixas de Gaza” dos conflitos, como a Rua 1, a Rua 2, o Beco 199, a Roupa Suja e o Valão, têm despedidas quase todo dia. Os destinos recorrentes são favelas como Rio das Pedras, Muzema e Tijuquinha — assim como a Rocinha, de forte tradição nordestina. Mas há também quem busque um lugar mais seguro na própria comunidade: “na rua”, como se costuma chamar as proximidades da Estrada da Gávea.

— Alguns vão para a casa de parentes temporariamente. Quem tem condições vai embora. Nas últimas semanas, minha esposa se viu sozinha em casa, desesperada, em três tiroteios. Ela me pediu para sairmos do beco. Planejamos nos mudar para a Vila Miséria, perto da rua, que está mais calma — afirma um morador do 199.

Num dos prédios do mesmo beco — cujo acesso está parcialmente bloqueado por um caveirão da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) — já são oito apartamentos vazios, sem que apareçam interessados. E, como está difícil encontrar inquilinos ou compradores, os preços começam a despencar. Uma casa que custava R$ 120 mil já vale entre R$ 60 mil e R$ 80 mil. Enquanto isso, nas paredes da Rocinha, aumenta a quantidade de anúncios de imóveis em outras favelas.

Com tanto adeus à Rocinha, motoristas de frete que fazem ponto próximo à Autoestrada Lagoa-Barra experimentam realidades diferentes. Um deles se especializou em trazer mudanças de outros estados, como os do Nordeste, e até quarta-feira passada não tinha feito uma única viagem este mês. Numa camionete menor, um colega dele não reclama. Se antes tinha, em média, sete a oito trabalhos por semana, agora são cerca de 15. A grande maioria, diz ele, de saída da Rocinha:

— Dá para arrumar um dinheiro.

Entre as atividades econômicas da favela, no entanto, ter motivos para comemorar é exceção. No coração comercial da comunidade, a Via Ápia, o Largo do Boiadeiro e a Rua da Alegria (conhecida como Caminho do Boiadeiro, onde a turista espanhola foi morta), nada escapa à queda de até 70% das vendas. Os clientes passam na porta de lojas, bares, mercadinhos, papelarias, salão de beleza, mas não entram, com pressa para chegar em casa.

— Nosso movimento já tinha caído pela metade este mês. O dia seguinte à morte da turista foi o pior de todos — diz a caixa de um mercado no Caminho do Boiadeiro.

Perto dali, num salão de beleza, as quatro funcionárias passam a maior parte do tempo de braços cruzados. Elas contam que, normalmente, tinham de 30 a 40 clientes por dia. “Agora, se há cinco ou 10, é muito”, diz a dona do estabelecimento. Além das freguesas da própria Rocinha, desapareceram também as que vinham de bairros como a Barra da Tijuca e São Conrado. Só uma delas entrou na comunidade para cortar o cabelo este mês. Foi na sexta-feira da semana passada, depois de mandar uma mensagem para sua cabeleireira perguntando sobre a situação da Rocinha.

— O que eu ia dizer? Estava tranquilo. Mas não sabia até quando. Ela veio morrendo de medo. Não tenho ideia de como será nosso fim de ano. Estou me organizando para, nos dias de folga, atender a minhas clientes em casa. Não posso perdê-las — dizia uma das cabeleireiras.

Num aviário da mesma rua, as vendas estão tão fracas que o dono resolveu tirar férias antecipadas. Seu faturamento já caiu mais de 60%. E ele ainda enfrenta dificuldades com seus fornecedores, que não querem mais entregar na Rocinha. Alguns param na Lagoa-Barra, e de lá despacham as mercadorias.

— Só estou com o estabelecimento aberto porque a loja é nossa. Se fosse alugada, já teria arriado as portas — diz o comerciante.

A Caixa do Largo do Boiadeiro, por exemplo, continua fechada desde o dia 11 de outubro, por conta da violência. Na porta, moradores colaram cartazes para pedir a reabertura do banco. E organizaram um abaixo-assinado, com cerca de 12 mil adesões, reivindicando a permanência da empresa, que já operava havia 19 anos na Rocinha. Atividades que giravam em torno do turismo também amargam a derrocada. A feirinha de artesanato da Estrada da Gávea, por exemplo, passou a maior parte da semana fechada.

ATÉ ASSALTOS ESTÃO SENDO REGISTRADOS

Até assaltos, incomuns na favela, têm acontecido. Para alguns, a realidade beira o insuportável. Na conflagrada Rua 2, conta um agente comunitário da Região Administrativa da Rocinha, são cerca de 80 moradores sem energia desde 17 de setembro. O problema é num cabo subterrâneo. Mas a empresa terceirizada da Light que deveria realizar o reparo alega falta de segurança para fazer o serviço.

Na Roupa Suja, a luz voltou, mas só depois de 24 dias, período em que muitos moradores, sem terem como ligar as bombas que abastecem suas casas, também ficaram sem água. Um drama de onde brotou uma rede de solidariedade entre vizinhos para salvar a vida de uma idosa que depende de um respirador para sobreviver. Eles se uniram para emendar fios e puxar um “gato” de energia até a casa da senhora. Enquanto isso, contudo, a maioria se virava na escuridão.

— À noite, ficávamos à luz de vela e só fazíamos lanche. Comíamos pão com mortadela. Passamos semanas comprando gelo para a comida não estragar — diz uma moradora da Roupa Suja, que passou alguns dias fora, na casa de parentes.

Mas deixar a casa vazia, seja para um tempo fora, seja para mais uma jornada de trabalho, também se transformou em motivo de aflição. Os moradores temem sair e, na volta, encontrá-la arrombada e revirada. Alguns atribuem arrombamentos à polícia e falam do sumiço de objetos e dinheiro. Até o imóvel onde são oferecidos cursos de moda pela Igreja Católica — com aulas suspensas por causa da violência — já foi invadido.

Já numa das áreas mais perigosas da favela, jovens denunciam espancamentos da polícia, para forçá-los a entregar informações sobre o tráfico. Um deles diz ter sido torturado por PMs. E exibia pelo corpo hematomas de enforcamento, arranhões e roxos nas costas.

— Puseram uma balaclava na minha cabeça e andaram comigo até a linha da morte — conta outro morador, referindo-se a uma área onde aconteceriam extermínios. — Se não fosse a presença da Corregedoria da PM na favela, eu já era.

Agentes do órgão estão num posto itinerante no Largo da Macumba para receber denúncias sobre a conduta dos PMs e ações de criminosos, que podem ser feitas ainda pelo WhatsApp 97598-4593, pelo telefone 2725-9098 ou pelo e-mail [email protected] .

Foi perto desse posto que, na terça-feira, um carro com vidros escuros estacionou próximo a uma viatura da PM, sob a passarela projetada por Oscar Niemeyer. Imediatamente, um policial apontou um fuzil para o veículo. O motorista se apressou para abrir o vidro e mostrar que estava tudo bem. Sinal de que, mesmo quando tudo transcorre aparentemente sem sobressaltos, os nervos estão à flor da pele. É a vida dura, rápida e incerta da Rocinha.

Matéria de O Globo clique aqui

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Site de comunicação comunitária desenvolvido por estudantes de comunicação da própria comunidade da Rocinha.

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Que a partir da década de 50, houve um aumento de migração de nordestinos para o Rio de Janeiro, direcionando-se em parte para a Rocinha.

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