FavelaDaRocinha.com
Menu
  • Notícias
  • Ações Sociais
  • Colunistas
    • Leoni
    • Luiz Carlos Toledo
    • Tico Santa Cruz
    • Guilherme Campos
    • Marilia Pastuk
    • Marcos Barros
    • Binho Cultura
    • Fabiana Escobar
    • Fernando Ermiro
    • Hosana Pereira
    • Guilherme Rimas
  • Fala Tu
  • EQUIPE
Menu

Eu estou protegido pelos tijolos e a argamassa erguidos nos anos 80

Posted on 20 de fevereiro de 201818 de fevereiro de 2018 by Fernando Ermiro

Nós, os favelados, moramos numa área, que os primeiros colonos da América do Norte chamavam “city upon a Hill”, simplesmente por estar vazia uma, vez que sempre houve preferência por ocupar as áreas de planícies e esses acessos ” militares” são mais difíceis, e menos confortáveis de ser escalados. Houve um tempo que essas áreas eram reservadas igreja católica, pois “nada podia estar a cima de deus”, lembrando a toda sociedade que igreja e estado eram e foram, uma coisa só.

Privilégio, no sentido que emprega Sandra Cavalcanti, não há, se houvesse e isso é subjetivo, citaria 02: as melhores vistas de uma cidade de bela topografia e com uma natureza sensacional, que somente os estrangeiros, que moram em planícies e destruíram a natureza a sua volta, são capazes de ver.

Aqui perto, por exemplo, tem a residência de Grandjean de Montignyi, estrangeiro que viu a beleza da natureza e construiu sua residência ali, enquanto que para a sociedade carioca da época, era coisa para selvagens morar próximo ao verde, e em sua obsessão por imitar a Europa, com sua ausência de verde e paixão pelo cinza do cimento, símbolo, dentro dessa mentalidade imitativa, de desenvolvimento.

Sou entusiasta, junto com outros, de uma instituição chamada Museu da Rocinha, seu conceito de operação é o valor das ações que os moradores realizavam antes do desenvolvimento” a lá Sandra Cavalcanti, valores antigos e que geravam o privilégio número 02 da minha lista: Sentido de comunidade (todo cuidado com esse termo, somos, somente na Rocinha, 100 mil moradores), uma vez que as mais modernas e caras (economicamente falando) práticas da moda atual, era o que já se fazia no início das favelas: sustentabilidade, redução do impacto ambiental, preservação da natureza, reaproveitamento das águas das chuvas, manejo inteligente da vegetação, esses são exatamente os conceitos que se quer operar o Museu da Rocinha. Não um retorno a um tempo idílico e impossível, mas uma volta necessária, para toda a humanidade, ao equilíbrio entre nós e a natureza.

Os maus exemplos dos ricos: Desperdício, excesso, plásticos, são imitados na favela, onde entupir a si mesmo e os próprios filhos de açúcar (camuflado em refrigerantes e sucos industrializados, “caros”) é um sinal de status e diferenciação, para cima, na escala social. O lixo que é gerado pelos ricos e que “desaparece” na caixa mal cheirosa no final do corredor, é manuseado pelo funcionário mal pago do prédio de apartamentos, (alias pagar justos salários pelo trabalho, o brasileiro rico, estranhamente, não quer imitar o europeu).
Aqui na Rocinha e em outros lugares, criou-se, um necessário e funcional, projeto de recolha se lixo nas residências, mas este veio desacompanhado de envolvimento e conscientização junto a população atendida, o que gerou um maior volume de lixo, agora ancorado nos becos, à espera do seu igual “desaparecimento”.

Enquanto escrevo ouço tiros, em mais uma manhã sem creche e me vem duas imagens a cabeça: Racionais MCs e alguém na favela “num quarto de madeira lendo à luz de vela” e do escriba medieval, que só pôde produzir pois havia um soldado/guerreiro que o poupava da arte da guerra. Eu estou protegido pelos tijolos e a argamassa erguidos nos anos 80.

Ontem estive em Petrópolis, a estudo, e voltei disposto a falar mal do museu imperial e sua injusta distribuição de renda, mas deixo para outra hora, pois hoje acordei inspirado para falar de coisas positivas, mas o tiroteio lá fora me desconcentra.
E eu, assim como todos nós que moramos na favela, não sou escriba e muito menos guerreiro, nós, somos trabalhadores civis.

P.s: Nós que moramos nas favelas do Rio de Janeiro somos 2 milhões de pessoas.

Fernando Ermiro

Fernando Ermiro é historiador, formado pela PUC-Rio. O cria da Rocinha, é um dos integrantes do Museu Sankofa Memória e História da Rocinha, que tem como finalidade reunir a memória dessa imensa favela.

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você sabia?

A primeira luz na Rocinha não foi elétrica. Diz o povo que um cavaleiro atravessava a favela acendendo os lampiões das pequenas casas.

Procurar no site

Comentários dos leitores

  • Naluh Maués em Meu pequeno grande milagre
  • Cely em Meu pequeno grande milagre
  • Joelma em Meu pequeno grande milagre
  • taillon em Beco nosso de cada dia
  • Maria Ines em Oficinas do Sesc/Senac na Rocinha! Inscrições Gratuitas!

Tags

ajuda arte Biblioteca Borboleta C4 carnaval Cinema comunidade crianças Cultura dinheiro economia educação esporte favela fotografia funk Governo jovens leitura literatura morador moradores morro morte Música oportunidade Parque PM polícia política projeto Rio de Janeiro rocinha saneamento saúde segurança social São Conrado teatro turismo upp vestibular Vidigal violência

Instagram

Follow @@faveladarocinha
Followers: 13347
faveladarocinha.com faveladarocinha.com ·
@FavelaDaRocinha
Nau Rocinha retoma atividades com as primeiras turmas de 2023.
https://t.co/2XFLazxAO5
View on Twitter
0
0
faveladarocinha.com faveladarocinha.com ·
@FavelaDaRocinha
O projeto TMJ Rocinha + Sustentável foi apresentado hoje no Complexo Esportivo da Rocinha mostrando a importância da intervenção e o impacto social e sustentável que a Rocinha receberá com diversas ações. Confira em nosso site: https://t.co/JMK9WJGfdc
View on Twitter
0
1
faveladarocinha.com faveladarocinha.com ·
@FavelaDaRocinha
No início da manhã desta terça-feira (22), sete sirenes de emergência foram acionadas na Rocinha devido à forte chuva. Há relatos de diversos pontos de alagamento na favela.
Em caso de emergência, ligue 199 (Defesa Civil). https://t.co/AbYKz79ctH
View on Twitter
FavelaDaRocinha photo
4
19

  • Facebook
  • Instagram
  • Twitter
  • YouTube
© 2023 FavelaDaRocinha.com | Powered by Minimalist Blog WordPress Theme