
Os últimos meses possibilitaram a mim, um tanto quanto omisso a um ativismo mais presente, chances de trocas infindáveis, com mais engajamento e participação. Pudera: resido em um local simbólico perante a cidade e que pelo menos no último semestre virou manchete de jornais impressos e televisivos por conta da violência. Era hora de sair e encontrar meus pares.
Morador da Rocinha há 19 anos, cresci analisando de certa forma a precariedade no tangente à falta de lideranças ou mesmo de um conglomerado de pessoas que, unidas, representariam o lugar. Digo representar, mas não só isso definitivamente. O então representante é esperado para lutar por questões fundamentais e diárias como saneamento, mobilidade, saúde, etc. Temas esses que são falados, escutados e sentidos nas conversas dos botecos, nos cochichos dentro dos becos e por aí vai.
Infelizmente e ao longo do processo, creditamos nossas esperanças de representatividade em pessoas que por si só já chegam com prazo de partida na favela: os políticos, que aproveitam da Rocinha como manancial de votos em ano eleitoral. É como se fosse uma espécie de show, só que sem o tão aguardado ‘’bis’’ e nem data prévia para o início de uma próxima turnê.
Nesse vai e vem, soluções que não dependiam do andar de cima foram encontradas. Ações, mobilizações e realizações puderam ser feitas, constatando aquilo que é sentido há muito. A micropolítica e o trabalho em comunidade ainda pode (e deve) prevalecer.
Iniciativas como o grupo ‘’Rocinha Sem Fronteiras’’, coletivo fundado há mais de 10 anos e que se reúne mensalmente a fim de discutir e propor ideias que viabilizem transformações palpáveis, nos colocou em um outro patamar de luta e resistência. Sua existência incentiva os mais experientes, mas também os novatos, como os integrantes do ‘’Rocinha Resiste’’, que começou a reunir-se em janeiro. ‘’É um espaço e grupo para se trocar ideias, botar um pouco pra fora o que se quer dizer e também ouvir, além de ser uma espécie de minilaboratório articulado para comunicarmos e conseguirmos fazer coisas que melhorem a vida na Rocinha’’, diz Pedro Paiva, um dos organizadores da frente.
A continuidade desses grupos atualmente é de teor indispensável. Eles atuam como fomentadores de discussões, dando aos moradores a possibilidade de encontrarem-se dentro da própria comunidade, em reuniões com especialistas, dados e informações mais precisas, com intuito de se traçar possivelmente as soluções mais palpáveis e próximas ao contexto de uma favela que contempla aproximadamente 100 mil pessoas.
Para que a massa desça dos becos motivada pelo direito que lhe é cerceado, há que se criar antes de mais nada o hábito de diálogo e conscientização dentro desse universo particular. O maior barulho seja talvez causado dentro, e não fora. Rumo ao trabalho. Como disse o escritor Zuenir Ventura na última edição do evento ‘’Você É O Que Lê’’ que ocorreu na Rocinha, ‘’É hora de ação!’’.