Em meio à pandemia global da Covid-19 e à escassez de oportunidades de trabalho, teve início em Setembro, na Rocinha, o projeto piloto da startup Plataforma Impact, idealizada pelo americano Gary Carrier, que morou dois anos na comunidade carioca. Durante esse tempo ele se impressionou com a capacidade de encontrar soluções para diversos problemas nas casas, nos becos e vielas, e teve a ideia de aliar essa criatividade com habilidades de Tecnologia da Informação e inserir esses jovens no mercado de trabalho no Brasil ou até mesmo nos Estados Unidos.

Gary trabalhou com empreendedorismo digital e investimentos com impacto social e explica que a maioria das empresas do Vale do Silício foram fundadas por imigrantes, que assim como os moradores de favelas, tinham poucos recursos econômicos, mas muita criatividade para solucionar problemas. Para transformar o sonho em realidade, Gary conta com doações realizadas nos Estados Unidos, onde a startup é registrada, entretanto a ideia é ser autossustentável em pouco tempo, trazendo a demanda de projetos americanos para a Plataforma.
A startup possui conselheiros que ajudam na capacitação e gestão de recursos humanos com montagens de currículos, orientação para entrevista e inserção de alunos no mercado de trabalho. Entre eles, Hans Bukow, um carioca que trabalha no Vale do Silício, com mais de 25 anos de experiência ajudando empresas de inovação, software, tendo ajudado inúmeras startups internacionais. Além dele, Juliana Levy, psicóloga e gestora de negócios, e segundo ela “o cenário de pandemia acelerou a transformação digital de boa parte das empresas, e outras entraram no mundo digital para manterem seus negócios, aumentando a demanda da área de Tecnologia da Informação, principalmente desenvolvimento de softwares e plataformas, bancos de dados, infraestrutura, Segurança da Informação, suporte, entre outras”.
Gary conta que há carência de profissionais que possam oferecer soluções além dos conhecimentos padronizados oferecidos nas faculdades. “Nossa ideia é treiná-los para buscar soluções únicas e criativas, pois o mercado de tecnologia cresce exponencialmente e está faminto por talentos. Estamos vivendo um momento especial, atualmente as barreiras para entrar nesse mercado estão menores, as empresas estão percebendo que as habilidades são mais importantes que o diploma de um curso renomado, democratizando as oportunidades, e as pessoas que vivem em favelas já possuem o hábito de pensar fora da caixa e buscar soluções não convencionais para os problemas do dia a dia”.
A Plataforma possui 30 alunos divididos em três turmas. Eles aprendem Hardware, Redes, Desenvolvimento de Web e Programação, entre outros, e depois se especializam na área na qual se identificam melhor. Conforme forem se graduando, eles podem se tornar monitores, estagiários e trabalharem num projeto real e receberem uma bolsa para se dedicarem integralmente.

Jackson Cliliano, professor de informática, conta que se identifica com o fato de a Plataforma investir e capacitar pessoas que não possuem muitas opções de mercado de trabalho, impactando de fato na vida e na realidade delas, “a Plataforma vai muito além de ensinar os caminhos da programação de software, queremos formar desenvolvedores capazes de pegar uma demanda, trazer para a mesa, desenhar, arquitetar e apresentar soluções completas ao cliente”. Wolgran dos Santos Lopes, paraibano de 26 anos e morador da comunidade Nelson Mandela, se desloca até a Rocinha para ter aulas na Plataforma Impact. Ele se formou em matemática e é encantado pelo mundo digital “a área de tecnologia da informação é sensacional, é revolucionário do início ao fim, é a porta para quem quer expôr seus pensamentos de uma maneira diferente” afirma.