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Abram os portões

Posted on 2 de março de 20183 de março de 2018 by Amanda Pinheiro
Da esquerda para a direita Érica Santos, João Pedro dos Santos Jaqueline Ferreira (foto: Amanda Pinheiro)

“Um sorriso negro, um abraço negro, traz felicidade”, já dizia a maravilhosa sambista Jovelina Pérola Negra. Em meio a um momento delicado que a Rocinha passa, estes sorrisos se destacam da melhor forma: com o conhecimento. Considerando que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil, eles estão contrariando essa e outras estatísticas, e suas vidas vêm mudando através dos estudos, se tornando exemplo para muitas pessoas que os acompanham. Pensando sobre o assunto, resolvi trocar uma ideia com essa galerinha.

Entre 2005 e 2015 o percentual de negros no ensino superior praticamente dobrou. Vale lembrar que as ações afirmativas como as cotas sociais e raciais foram implementadas em 2004 e um ano depois, somente 5,5% dos pretos estavam em uma faculdade. Na pesquisa divulgada pelo IBGE, em 2015, os números foram significativos, pois 12,8% dos negros estavam no ensino superior, mas ainda eram e são minoria comparados ao número de brancos. A partir de programas como: PROUNI, SISU e Fies e as cotas, o sonho de fazer uma graduação ficou mais próximo.

Assim aconteceu com Jaqueline Ferreira, 24 anos, que está no 4º período, entrou através do sistema de cotas e é a primeira da família a ingressar numa universidade. Antes, fez técnico em edificações, mas não curtiu, mesmo sabendo que teria um bom retorno financeiro. Porém arriscou, trocou a área de estudo e agora se sente feliz com a mudança, pois define a psicologia como uma via de mão dupla, em que além de ajudar outras pessoas, também é um processo de autoconhecimento.

Historicamente, o Brasil tem uma dívida grande com negros e indígenas e isso é inquestionável. Por isso as cotas raciais são vistas como uma forma de retratação em busca de uma possível igualdade, visto que as oportunidades entre negros e brancos não são as mesmas. Em nosso papo, Jaqueline disse que as cotas são importantes e também fez ressalvas sobre o assunto, que ainda é bem polêmico.

– Acho que a reparação social aos negros, às pessoas de periferia, deveria ser a inclusão e equidade social, mas já que isso não ocorre talvez as cotas sejam o mínimo para que quem se enquadra nela, consiga ter a chance de entrar numa universidade. Aliás, cota não quer dizer que entrou com nota muito baixa ou que foi fácil, disse Jaqueline.

A estudante reiterou que muitas notas de corte são altas, deixando pessoas fora da disputa. Além do que, ainda há o pensamento de que o cotista é menos capaz, mas ele tem em si e ao seu redor uma grande pressão para provar que merece aquela vaga.

– A cota, te permite entrar, mas se manter é o mais difícil, seja pela falta de recursos para que o aluno se desenvolva e consiga bolsas, pesquisas ou lidar com o sistema racista, afirmou a estudante.

Muitos jovens antes de seguirem carreira enfrentam as dúvidas de qual curso fazer, se escolhem pelo dinheiro ou por amor e outros têm a ideia de que a vida universitária é chopada, curtição e “crushes”. Porém, não é bem assim, esse “novo mundo” requer responsabilidade, foco e um trocado para as xerox. O caso de João Pedro dos Santos foi diferente, o garoto já sabia o que queria e tinha uma noção do que encontraria pela frente.

Ele tem 18 anos, cursa o 2º período de Relações Internacionais na PUC-Rio e contou que se interessou pela área após as manifestações de junho de 2013, onde a política e economia começaram a ficar em evidência no Brasil.

– Após as manifestações, me interessei mais por política e economia, lia tudo relacionado aos assuntos. No fim, me sobrou conhecimento básico sobre as duas coisas e o curso de Relações Internacionais é um dos poucos que as une, disse João Pedro.

Além das aulas, o ambiente acadêmico é um local de trocas de ideias e onde possui diversos coletivos, como os feministas, LGBTQ+, negros etc. Que levantam questões e discussões de determinados assuntos de suas pautas. Apesar do número de alunos ser pouco, os coletivos negros vêm se tornando potências dentro e fora da academia, por exemplo: o Nuvem Negra (PUC), Núcleo Negro Heleno Alves (FACHA), Frente Negra (UERJ) e Coletivo Negro  Carolina de Jesus (UFRJ), que vão muito além da resistência, mas são lugares de acolhimento. Para João é importante entender que não está sozinho, apesar da realidade parecer contrária.

– Na PUC, nós negros somos uma minoria esmagadora, é difícil conhecer outro negro no campus e fico feliz quando acontece. Já fui em reuniões do Coletivo Nuvem Negra e me senti muito acolhido. Os coletivos são espaços que dão um conforto, que não temos quando em contato com a massa universitária, mesmo que ela não nos agrida diretamente, não dá para se sentir parte daquela infinidade de rostos que por mais diferentes que sejam, possuem todos a mesma cor e essa não é a sua, explica João.

A existência dos grupos negros é essencial, pois há necessidade de discutir sobre o racismo institucional, promover rodas de conversas e principalmente a união entre os pretos, afeto, comunhão; ubuntu. É evidente que quando se tem apoio a caminhada se torna leve e o estudo fica prazeroso. Em muitos casos, tão prazeroso, que ele vai se aprofundando e leva pessoas cada vez mais longe.

E isso foi o que aconteceu com Érica Santos, que é cria da Rocinha, tem 25 anos e faz mestrado em Administração de empresas com foco em Finanças, na PUC – Rio. Ela foi a primeira da família a fazer uma graduação (Administração de Empresas – PUC), MBA (Finanças – Ibmec).

– Desde pequena eu passava pela PUC e falava para os meus pais que, quando fosse grande, iria estudar naquele lugar. E foi assim. Fiz o pré-vestibular comunitário do Colégio Santo Agostinho e passei na terceira chamada para a PUC. Entrei sem a bolsa, mas depois eu pedi e conforme observaram meu rendimento, consegui, disse Érica.

Mais do que a realização pessoal, o sentimento de ser uma inspiração para outras pessoas também é gratificante. Porque a realidade de quem sobrevive numa favela não é fácil, pois com a falta de políticas públicas, incentivos e oportunidades, atividades como: trabalhar, estudar e ter momentos de lazer ficam árduas e requerem um esforço redobrado. Hoje, Érica mora em São Conrado, mas acompanha diariamente o cotidiano da Rocinha e por onde vai, faz questão de lembrar suas origens.

– Sendo negra e favelada, eu me sinto muito honrada em chegar aonde e como cheguei. A gente nasce em uma realidade complicada e já em desvantagem, se não tivermos uma boa estrutura familiar e pessoas que estejam dispostas a nos ajudar, dificilmente chegaríamos aonde estamos. Não é fácil ser quem sou na minha profissão, que é totalmente elitizada e masculina. E fico feliz porque hoje sinto que sou referência e estou quebrando paradigmas na sociedade, exclamou a jovem.

Dizer que essas histórias deixam o coração bem quentinho ainda é pouco. Ver que o povo preto está cada vez mais empoderado, confiante e unido é emocionante e lindo de se ver. A luta contra o racismo é diária, mas nós estamos resistindo e alcançando nossos objetivos. Aliás, sabe quando o Rincon Sapiência diz que “os pretos é chave”? Então, abram os portões!

Amanda Pinheiro

Mulher negra, cria da Rocinha, jornalista, amante do samba. Co-criadora do Jornalistas Pretas, apaixonada por fotografia, esportes e dança. Dançar é muito bom. Sou fascinada por histórias e como sempre curiosa, acredito no poder da comunicação, no poder de levar a vida com leveza e bom humor e sou adepta do "vamos fazer", sempre assim! Carrego também uma frase da inspiradora Angela Davis que é a seguinte: "Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela", essa fala me dá forças para seguir. Enfim, acho que é isso.

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