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A injustiça dos vencedores

Posted on 7 de maio de 20124 de setembro de 2014 by Leoni

saberaceitaraderrotaparaavitoria_1336445614Resolvi escrever esse Diário de Bordo porque tenho visto muitos textos nas redes sociais afirmando que se você tiver vontade, coragem e diversas outras qualidades vai conseguir realizar o que quiser. Depende só de você. Normalmente são assinados por grandes vencedores: Walt Disney, Steve Jobs, Renato Russo, Paulo Coelho, Einstein e diversos novos famosos dizem com todas as letras – muitas vezes totalmente fora de contexto – que você só não “chegou lá” por culpa sua. Porque não acreditou o suficiente. Porque não se empenhou. 

Isso é de uma injustiça e de uma covardia sem fim. E ainda coloca a pecha de “losers” em 99% da humanidade. Temos que ser claros: não é possível que todos os seres humanos tenham a vida com que sonham, especialmente quando esses sonhos são irrealizáveis. Por exemplo, não dá para todo mundo ser rico – sonho paupérrimo de uma parcela enorme do mundo ocidental. A Terra não comportaria essa demanda de recursos e nem o lixo gerado por esses novos esbanjadores. Não dá para todas as mulheres namorarem o Brad Pitt. Não dá para todo mundo ser o número 1.

É claro que sugeri hipóteses exageradas, mas mesmo planos mais modestos podem não se tornar realidade. Uma carreira estável pode ser uma meta nunca concretizada. Todos dependemos de uma conjuntura favorável da economia – ou do setor em que trabalhamos, da empresa que escolhemos etc. O que parece sólido pode desmoronar diante de uma crise mundial, de uma catástrofe climática, de uma guerra, ou de uma doença que nos atinja. E sem nenhuma culpa nossa.

O que acho muito importante nas mensagens “motivacionais” é dizer honestamente que, apesar da possibilidade do fracasso – algo que nunca é admitido -, não tentar é muito pior. Que se nós desistirmos dos nossos sonhos ficaremos apenas com a certeza de que eles não se realizarão. Enquanto tentarmos teremos pelo menos alguma chance de sucesso. E podemos continuar nos empenhando e dando um sentido às nossas vidas enquanto corremos atrás do que nos é precioso.

E o fracasso também tem seu lado positivo de nos fazer mais realistas em relação às nossas metas, de ajustá-las ao mundo em que vivemos. E de aperfeiçoar nossos planos. Alguém já disse que “um tropeço ensina mais do que o sucesso.”

Sobre sonhos e música – evitando os erros

Trazendo essa história para o mundo da música, já escrevi no meu livro,Manual de Sobrevivência no Mundo Digital, sobre a ilusão que os ídolos pop do fim do século passado criaram nos candidatos a artistas. Dois erros são os mais comuns quando se trata de construção de carreira. 

1) O primeiro é em relação ao tempo. Enquanto para qualquer profissão já se sabe de cara que vão-se uns 10 anos para que alguém consiga viver razoavelmente de seu trabalho, muitas bandas ficam frustradas e desistem de tudo depois de 2 ou 3 anos de ralação inglória. Para um advogado seria o quarto ou quinto período da faculdade e o começo de um estágio. Para um médico faltariam alguns anos para a residência. Ou seja, estariam ambos ainda investindo muito para colher frutos muito mais adiante. Por que em música seria diferente? Essa esperança foi muito alimentada pela indústria da música que criou “overnight sensations” em quantidade industrial no fim do século passado. Minha primeira banda, Kid Abelha, foi favorecida por esse sistema. Antes de sermos bons músicos ou de termos um repertório vasto e consistente, antes de termos atingido um público mínimo, antes mesmo de termos um bom show, já tínhamos um contrato com uma gravadora e começamos a tocar em rádios e programas de TV. Mas temos que lembrar que para cada banda que conseguia se destacar uma multidão de instrumentistas, cantores e compositores era totalmente ignorada. Esses dias acabaram. As gravadoras acabaram, ou pelo menos se tornaram muito menos poderosas. A capacidade de gerar estrelas instantâneas diminuiu muito. Construir uma carreira em música hoje requer o mesmo tempo, esforço e dinheiro que o de qualquer outra profissão. E o fato de se formar advogado ou engenheiro também não garante a ninguém uma vida de rei. Quer dizer, você pode passar por todo esse esforço sem se transformar num pop star. Aliás, isso é o mais provável.

2) O segundo erro é o de acreditar que se você tem um sonho deve colocar todas as suas energias nele e de que não há tempo para mais nada. Esse mito do herói romântico desligado das coisas mundanas mais destrói que ajuda os sonhos a virarem realidade. Voltando às profissões tradicionais, como é que alguém faz para conseguir se formar numa universidade se não tem a família bancando? O jeito é ter como se bancar. Arrumar um emprego e estudar à noite é a forma mais usual. Muitos candidatos a artista ficam com escrúpulos de pensar em alguma atividade não artística, como se isso comprometesse seu contato com as musas. Mas está na hora de repensar essa necessidade de “pureza”. Carlos Drummond de Andrade, nosso poeta maior, foi funcionário público e escrevia nas horas livres. Por que um músico não poderia colocar a mão na massa sem perder seus dons? E essa “pureza” não vai ajudar no longo prazo. Numa maratona um corredor deve ter reserva de energia e repô-la constantemente durante o trajeto. Não é como numa prova de 100 metros rasos em que se usa tudo de uma vez. Não ter uma fonte de renda durante a busca do seu objetivo é feito correr uma maratona como se estivesse numa prova de 100 metros rasos: você vai ter que desistir, exausto, ainda no começo do caminho.

Sonhos precisam da realidade

Por mais paradoxal que pareça, uma dose reforçada de realismo ajuda muito quem tem um sonho. E outra coisa que ajuda muito é aproveitar o caminho, que pode não levar aonde você quer chegar, mas que pode ser igualmente divertido. Para não ficar só no plano das ideias, vamos à realidade. Nesse fim de semana toquei com uma das bandas mais competentes, trabalhadoras e bem sucedidas desse novo mundo, os Móveis Coloniais de Acaju. Estão na estrada há 12 anos – “mas se eu não me engano, eu posso estar enganado” – nos quais construíram um público muito fiel. Fiquei impressionado tocando com eles em Vitória da Conquista com a multidão de adolescentes berrando todas as letras de todas as músicas que reconheciam ainda nos primeiros acordes. Mas é um público muito menor do que o que teriam se tivessem tido um contrato com uma major nos anos 80 ou 90. Por outro lado, naquela época, se não tivessem conseguido agradar a nenhum diretor artístico, não teriam público nenhum. E, apesar de todo o sucesso e reconhecimento conseguidos com tanto esforço, não podem ainda deitar na cama da fama e relaxar – e talvez nem venham a poder tão cedo. Trabalham incansavelmente na administração de todos os detalhes de sua carreira – consideram-se uma banda-empresa – e muitos deles têm outras profissões para completar a renda mensal, seja ensinando música, seja em outras áreas que não têm nada a ver com arte. Claro que essas ocupações têm que ser flexíveis para se adaptar ao fato de que a banda é a prioridade de todos eles. Talvez – bastante provavelmente – o Móveis não venha a ter seu avião, nem uma gravadora ou empresário que os liberem de suas funções burocráticas e de marketing. E talvez tenham que manter seus outros empregos por algum tempo. Mas eles atingiram o sonho de ter uma banda que se sustenta e que está trabalhando bastante, fazendo seu projeto artístico chegar a muita gente. 

Sucesso e sorte

Ser Walt Disney ou Madonna é uma possibilidade para muito poucos e requer, além de enorme talento e determinação, uma quantidade assombrosa de sorte. É isso que falta a esses textos nas redes sociais, lembrar que essas pessoas são uma minoria sortuda. A maior parte dos determinados e talentosos não vão conseguir ter esse grau de sucesso e serão, injustamente, chamados de loosers. 

Mas para o sucesso do tipo dos Móveis – embora ainda difícil, condicionado a muito trabalho e talento – o sonho é mais democrático. Viver de música, como de qualquer outra profissão, é viável. Temos que repensar nossos conceitos de sucesso. Será que ter uma carreira fazendo o que você gosta não é muito melhor que aparecer na revista Caras durante um verão e despontar para o anonimato depois como um ex-BBB?

Voltando ao título, não desista dos seus sonhos. Fazer com que aconteçam depende de você e de muitas outras coisas, mas sem você, com certeza eles nunca vão se tornar realidade. E se você se preparar bem, dá sempre pra continuar tentando. 

Boa sorte, todos precisamos!

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Para não ficar só na teoria, adoraria saber quais são os sonhos de vocês e como planejam atingi-los.

Vamos trocar figurinhas?

Leoni

Cantor e compositor. Fundou as bandas Kid Abelha e Heróis da Resistência. Em carreira solo há 20 anos, é um entusiasta da internet e luta pela liberdade de compartilhamento na rede.

1 thought on “A injustiça dos vencedores”

  1. Luiza disse:
    25 de maio de 2016 às 23:05

    Oi, Leoni.
    Moro no Rio de Janeiro, tenho 30 anos, sou filha de pais deficientes visuais que se conheceram no Benjamin Constant e a paixão de ambos pela música os conectou. Herdei deles o amor (e talvez o talento) para a música, mas a vida me levou para outros caminhos. Estudei Pedagogia, trabalhei na escola, e hoje atuo na área de recursos humanos em uma grande empresa. Tudo caminhava bem, uma carreira promissora, casa, marido, planejamento de filhos, talvez uma casa maior, um carro melhor, um cachorro, férias na Disney… quando despertei e desencadeei uma “crise” que culminará com a ruptura de tudo o que venho vivendo até então. Estou neste processo de me descobrir, entender quem sou, o que eu gosto de verdade, o que pretendo fazer nos próximos anos da minha vida e tentando resgatar as minhas raízes.
    O fato é que, além da música, tenho outra grande paixão – a grafia. Sempre gostei de me comunicar através da escrita, e fotografar – registrar impressões, visões diferentes sobre as coisas triviais, o desejo de encontrar algo que não está explícito, mas é repleto de significados, se não para os outros, mas para mim. A necessidade constante de me comunicar, através de palavras ou imagens, aliada ao fato de gostar de me relacionar com pessoas, ouvir e contar histórias, buscar novas formas de comunicação, diferentes linguagens, significados implícitos, e ser extremamente curiosa, querer conhecer um pouco de tudo e ter o pensamento transdisciplinar (vejo relação entre todas as áreas do conhecimento. Para mim, são diferentes traduções da mesma coisa) me levou à Educação e à Arte.
    Este olhar diferente sobre a mesma coisa foi o que sempre me motivou também a fotografar. Desde que resolvi pegar a “contramão”, estou me dedicando a fazer coisas que amo sem objetivo profissional ou financeiro. Uma delas foi fazer um curso de Fotografia, que comecei no último sábado no Ateliê da Imagem. Embora ainda não tenha conhecimento algum sobre o tema, posso dizer que me reconheço enquanto “fotógrafa”. E digo isso porque acredito que antes das profissões existirem, antes da escola existir, dos livros, da tecnologia, da fotografia, ou até mesmo da grafia, o registro do sentimento através da imagem já existia (os escritos rupestres são exemplos disso).
    Talvez o meu dom não seja nem pra música e nem pra fotografia, mas o fato é que eu preciso experimentar pra descobrir. Estou disposta a ir em busca disso, e sei que por onde for levarei a minha música e o meu olhar sensível e atento sobre as coisas do mundo. Penso que o fato de eu ter nascido “vidente” (como os cegos chamam as pessoas que enxergam) seja um grande presente e, como agradecimento, busco valorizar este sentido.
    De qualquer forma, se este email não voltar, ou se se perder no infinito cibernético, quero lhe agradecer por nos presentear com as suas visões, com a sua música, com a sua causa. Obrigada por ser tão inspirador com as suas palavras. Obrigada por compartilhar você conosco.

    Um beijo,
    Luiza.

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